“Passou o tempo” de Elias José

6 08 2008
Anselmo Gomes)

Elias José em sessão de autógrafos na Livraria da Vila, São Paulo. (Foto: Anselmo Gomes)

Tempo

Passou o tempo de roubar amoras,
mangas, goiabas e mexericas
no quintal dos vizinhos.

Passou o tempo de sonhar vitórias,
com sorriso de campeão
de futebol, basquete ou corrida de carro.

Passou o tempo de empinar pipas
e dar asas aos olhos e ao corpo
para soltar-me no espaço com elas.

Passou o tempo de não ter vergonha de ser rei dos castelos de areia
ou de esconder tesouros de figurinhas,
bolinhas de gude e pedras preciosas.

Passou o tempo de caçar briga,
chamar pro abraço ou xingar a mãe
e a raça toda do amigo-inimigo.

(Elias José. Cantigas de adolescer. São Paulo: Atual, 1992)

No último sábado (dia 2) ficamos um pouco órfãos. O escritor mineiro Elias José faleceu, aos 72 anos, vítima de pneumonia. Nelly Novaes Coelho assim o definiu:

Elias José é dos escritores que se constroem ou reconstroem a cada novo livro, conscientes de que o discurso literário ou a escritura é o elemento-chave da criação literária. A matéria que mais o atrai é a que desafia os limites entre o real e o maravilhoso ou entre o conhecido e o mistério. Nos livros para adultos, essa matéria pe dramática e densa; nos livros para a meninada, surge filtrada pelo humor, ludismo, alegria e emoções. (Nelly Novaes Coelho. Dicionário crítico da literatura infantile juvenil brasileira. p. 289. São Paulo: Edusp, 1995. Atualmente publicado pela Cia. Editora Nacional)

Para mim, Elias José é daqueles autores que, por mais que tenham escrito, farão muita falta por todas as poesias e histórias que ficaram em sua cabeça e não se transformaram em palavras. Mas, para amenizar um pouco essa ausência, Elias José deixou mais de cem livros. Neles poderemos sempre ler suas histórias e sua poesia, “fruta doce e gostosa”.

E, agora, “quem quiser que conte outra”